25.8.17

Eleições em Angola.



Falaremos mais detidamente sobre este assunto daqui a dias. Mas, acabado de regressar da Missão de Observação Eleitoral da CPLP às eleições angolanas, posso dizer que registei uma grande convergência entre aquilo que pude ver pessoalmente no terreno, aquilo que testemunharam os outros observadores da mesma Missão da CPLP nas reuniões que fizemos para formar uma visão de conjunto e, ainda, aquilo que pude constatar nas reuniões de Chefes de Missão (em que tive oportunidade de participar integrado na delegação da CPLP) acerca da leitura dos observadores das outras missões. Aquilo que vimos representa um grande salto qualitativo para a democracia angolana. Brevemente explicarei mais detidamente as razões para afirmar isto.

Pergunta-se: mas está tudo resolvido ao nível do que há a fazer em termos de qualidade da democracia angola? Claro que não. Está garantido que a nova liderança faça o que é preciso fazer para resolver os principais problemas de Angola? Não está garantido. Mas estas eleições, pela sua qualidade e pelo seu significado, podem abrir muitas portas, tanto do lado do poder como do lado da oposição.

Claro que as democracias não se fazem só de eleições. É preciso aproveitar o impulso aberto por estas eleições. Por exemplo, é certo que o acesso à comunicação social não é igualitário para todas as forças políticas e é importante que mude o cenário por esse lado. Mas também é certo que os partidos da oposição têm um caminho a fazer para se credibilizarem como verdadeiras alternativas de poder, mostrando que serão capazes de governar melhor do que os que estão em funções.

Reservando uma análise mais cuidada para depois, não posso deixar de lamentar aqueles que fazem a festa, deitam os foguetes e apanham as canas. Refiro-me aos que se prestam à figura de considerar anti-democráticas e fraudulentas todas as eleições em que não sejam vencedores os seus partidos de sempre. Esses são tão inimigos da democracia como os que viciam actos eleitorais. E, pior ainda, desacreditam a própria crítica, porque deixam ver que dirão mal de tudo o que não corresponda às suas profecias de desgraça, privando o debate da seriedade de quem primeiro se informa e depois se pronuncia.

Como observador eleitoral, não tenho a pretensão de que, só por mim, vejo a verdade. Mas fomos muitos, angolanos (observadores nacionais) e estrangeiros (observadores internacionais) a ver, a ouvir e a cruzar informação, permitindo-nos dizer que estas eleições angolanas fizeram do 23 de Agosto de 2017 um dia bom para Angola. Agora, é preciso aproveitar o balanço para fazer o muito que falta e corrigir o muito que carece de modificação.

Porfírio Silva, 25 de Agosto de 2017
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