10.10.16

uber, táxis... e opções complexas.



Não sou um fanático das novas tecnologias sem critério. Não quero que voltemos a destruir as máquinas, por elas ameaçarem a ordem presente, mas as máquinas podem vir melhorar as coisas ou servir principalmente para as piorar. Não depende das tecnologias, depende de nós e das nossas decisões.
Vejo que uma plataforma electrónica pode ajudar a prestar melhor serviço - e tanto que estamos necessitados de melhor serviço de táxi! Há taxistas excelentes, mas continuamos à mercê da sorte ou do azar de apanhar um perfeito imbecil que acha que nos está a fazer um favor e que pode tratar-nos como um saco de lenha. É preciso acrescentar transparência, controlo, inteligência e flexibilidade ao serviço de táxi ou o que se lhe aparente. E as plataformas online têm meios que podem servir para isso. E o serviço de táxi tem de aprender com essas possibilidades.
Mas uma plataforma electrónica como a UBER também pode servir para precarizar ainda mais uma profissão. A técnica é velha: transforma-se toda a gente em "trabalhador por conta própria", pode até chamar-se-lhe "empresário" para que ele não possa pedir certos direitos, faz-se com que o "patrão" desapareça atrás da tecnologia e, a partir daí, é o salve-se quem puder. O mercado passa a ser "mais livre", todos podem lançar-se à aventura, ninguém cuida do que acontecerá quando forem mais os prestadores de serviços do que os clientes e quando for difícil monitorizar as práticas.
Era capaz de ser bom aproveitar o aparecimento de plataformas como a UBER para modernizar todo o sector dos que prestam serviços similares. Principalmente a pensar na qualidade do serviço. Eu, por exemplo, gostaria de ficar com um registo electrónico das viagens, para demonstrar a irracionalidade de certos percursos que nos são propostos. Gostaria de saber quem é o condutor e de o poder referenciar. São exemplos. Exemplos de possibilidades que, bem aproveitadas pelos táxis, poderiam renovar o interesse pelo serviço e limpar o campo, deixando a maioria de gente decente e atirando para canto os que dão má fama ao sector. Isso seria útil para todos.
Agora, uma coisa é certa. Um dos espinhos que tem de ser arrancados é a possibilidade de alguns, em nome da profissão, fazerem de uma classe uma tropa de choque, comportando-se como se tivessem direito a sequestrar o espaço público e a ameaçar a liberdade e segurança das pessoas.
Pelo menos enquanto não passarmos de vez aos automóveis sem condutor...

10 de Outubro de 2016