28.6.15

Sobre a Grécia e a Europa.


Sobre a Grécia e a Europa, continuo a pensar o mesmo que dizia e pensava há três meses. Passo a citar: as perguntas são do Público, as respostas são minhas. (Vou sublinhar, porque parece que há quem não saiba ler: dei esta entrevista há 3 meses.)

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P - Mas como é que o PS prepara uma alternativa? Os gregos não estão a conseguir.
R - Essa ideia de que a política de austeridade é a única que é possível dentro da União Europeia é uma tese muito curiosa — porque ao mesmo tempo é a tese de uma certa direita que diz que a austeridade é que é boa e não se pode fazer outra coisa; e é a tese de uma certa esquerda que diz que na Europa só conseguimos fazer política de austeridade. Há outras forças que dizem não, não há só austeridade. Na realidade, há duas maneiras de estar na União Europeia que não dão resultado.

P - Uma delas é a do Governo grego?
R - Uma delas é a política da submissão, que é a do actual Governo português e que se resume a que alguém disse o que temos de fazer e nós vamos fazer e tentar ser os bons alunos —o que significa que prescindimos da nossa voz na União Europeia. E depois há a via da proclamação e depois logo se vê, que num certo sentido é aquilo que está a acontecer com a Grécia.

P - Como vê a situação na Grécia?
R - O que aconteceu na Grécia tem um aspecto positivo e outro que merece mais reflexão. Há um povo que expressa a recusa de um tipo de política que estava a ser seguida. É preciso voltar a afirmar que os povos têm direito a fazer escolhas democráticas, dizer: "Nós não queremos este Governo, queremos outro e temos de mudar de política." A ideia de que a política vale a pena, de que o voto pode mudar é um aspecto positivo do que aconteceu na Grécia.

P - E o negativo?
R - Creio que o Governo grego tem vontade de encetar um diálogo produtivo com a Europa. Agora, na verdade, o Governo grego não respeitou um aspecto que é central na política europeia, que é perceber que há vários níveis de negociação e que a propositura tem de ser acompanhada com a negociação. O vosso jornal trouxe uma entrevista com o professor Stuart Holland, que lembrava que o engenheiro Guterres, quando era primeiro-ministro, tinha uma técnica de convencer Kohl, o então chanceler alemão, de como certas posições que Portugal defendia eram perfeitamente compagináveis com os interesses da Alemanha. É quase um mito europeu e aconteceu várias vezes o engenheiro Guterres chegar isolado aos conselhos europeus com toda a gente contra a sua posição e no fim dos conselhos estava toda a gente de acordo com o que ele tinha defendido.

P - Hollande e Renzi são uma social-democracia contaminada pelo neoliberalismo?
R - Creio que os partidos servem os seus povos. Quando perguntamos por que é que a posição dos partidos sociais-democratas do Norte da Europa não é exactamente a que preferiríamos, temos de perguntar: "Por que é que eles têm essa posição?" E muitas vezes isso significa que estão a responder a certos anseios dos seus eleitorados. Isto faz parte da dinâmica das sociedades democráticas. Não podemos achar que o nosso eleitorado tem todas as razões e os outros nenhuma.

(Daqui)