23.1.15

um P.M. muuuuuito esquecido.


Ontem, na declaração sobre o programa de compra de dívida pública em larga escala pelo BCE, António Costa, a certo ponto, afirmou o seguinte:

“Vale a pena recordar as declarações do Primeiro-Ministro sobre as políticas hoje anunciadas. Em Novembro de 2011, o Primeiro-Ministro afirmou que a compra de dívida pública por parte de um banco central era, e cito, um “péssimo sinal".
Já mais recentemente, em Maio de 2014, o Primeiro-Ministro insistiu que estaria contra a compra de dívida pública pelo BCE em larga escala porque, e cito, “é importante que a economia europeia recupere pelos seus próprios meios”. Ou seja, o PM foi sempre adversário desta medida e contrário à mudança de orientação da política europeia.”

Hoje, porque a memória dói a alguns, várias foram as tentativas de fazer de conta que PPC não tinha dito aquilo que disse.

Passos Coelho: ««Nunca me manifestei contra o programa do BCE, antes pelo contrário». O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, disse hoje que é «bem-vinda» a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de comprar dívida pública e que espera que ela «seja tão eficaz quanto se deseja».»

Na realidade, PPC nunca disse nada daquilo que disse, porque faz sempre o que a sua pulsão ideológica lhe dita e diz seja o que for que lhe pareça conveniente no momento. Passos Coelho é o político que "jurava" ser contra o aumento dos impostos, que antes de ser governo afirmava que o país não precisava de mais austeridade, que criticava o governo anterior porque estava a atacar o Estado social (!), que dizia (com razão!) que apertar o cinto demasiado podia matar o doente (que descaramento!), que se queixava de termos desempregados sem subsídio, que acusava o governo anterior de estar a atacar a classe média, que afirmava ser preciso defender os reformados e pensionistas. Quando estava na oposição, Passos Coelho até se pronunciava contra a alienação de participações do Estado, dizendo que isso era vender os anéis. O que se pode dizer de alguém que no governo faz tudo ao contrário do que declarou quando estava na oposição? Bom, sejamos simpáticos: o senhor é esquecido. Passos Coelho tem uma certa queda para se esquecer de coisas que disse anteriormente.

Ora bem, neste caso concreto, Passos Coelho disse ou não disse aquelas coisas que António Costa diz que ele disse?

Ponto 1: «o Primeiro-Ministro afirmou que a compra de dívida pública por parte de um banco central era, e cito, um “péssimo sinal".» Disse ou não disse? Disse. Aproveito um vídeo colocado por Dimas Pestana, onde se exibe esse ponto... e até mais:



Ponto 2: «Já mais recentemente, em Maio de 2014, o Primeiro-Ministro insistiu que estaria contra a compra de dívida pública pelo BCE em larga escala porque, e cito, “é importante que a economia europeia recupere pelos seus próprios meios”.» Disse ou não disse?

A 15 de Maio de 2014, a cadeia de televisão CNBC difundiu uma entrevista com Passos Coelho. Está neste link: Passos Coelho à CNBC.

Para vos poupar ao visionamento, deixo-vos um print sublinhado, a confirmar que Passos Coelho disse aquilo que agora alguns pretendem que não disse.


Pelo menos, Santana Lopes, que talvez tenha repulsa em mentir em defesa de Passos Coelho, disse hoje que "só os burros não mudam de opinião". Certo. Mudar de opinião pode ser bastante razoável. O que já não é razoável é querer aldrabar-nos, fazendo de conta que não se disse aquilo que efectivamente se disse.

De facto, os políticos não são todos iguais.

Já agora, para esclarecer outra mistificação em torno desta medida do BCE, cito João Galamba:

«Alguém avise Luis Montenegro que a razão pela qual Portugal pode beneficiar das medidas ontem anunciadas pelo BCE não é a conclusão do programa de ajustamento, não são as reformas estruturais, não é o seu empenho austeritário, nem a sua submissão face aos alemães. A razão pela qual Portugal pode beneficiar do Quantitative Easing é a manutenção de um rating acima de lixo por parte da agência de rating canadiana DBRS. Pequeno pormenor (delicioso): este rating precede o programa de ajustamento e é anterior ao governo PSD-CDS.»