22.1.14

Proposta de errata ao programa de ciência do XIX Governo Constitucional.



Gonçalo Calado, que se identifica como "eleitor e biólogo", tem um texto de opinião no Público que assenta numa leitura do programa do actual governo. Dada a monstruosa desconformidade entre o programa e a prática deste governo, também agora em matéria de investigação, Gonçalo Calado supõe a existência de "erros tipográficos" no texto com que este governo se fez mandatar e sugere as respectivas erratas. No conjunto, o exercício demonstra bem o que está Crato a fazer: à ciência e à democracia. Deixo longas citações do texto (com o meu antecipado pedido de desculpas ao Público, que cito frequentemente de forma breve, mas que hoje tenho de abusar um pouco).


Fui ver o programa deste Governo e detectei algumas imprecisões às quais modestamente proponho uma correcção, a bem da coerência que tal documento impõe:

1. Página 122, terceiro parágrafo, onde se lê “Graças às políticas de investimento de sucessivos governos, a ciência em Portugal representa uma das raras áreas de progresso sustentado no nosso país, tendo vindo a dar provas inequívocas de competitividade internacional” deverá ler-se “A ciência, à semelhança de outras áreas de progresso do nosso país é despesista e tem de ser recalibrada, apesar de ter vindo a dar provas inequívocas de competitividade internacional”.

2. Página 122, quarto parágrafo, onde se lê “O programa deste Governo inclui, portanto, o compromisso de manter e reforçar o rumo de sucesso da ciência em Portugal”, deverá ler-se “O programa deste Governo inclui, portanto, o compromisso de reajustar e podar o rumo de sucesso da ciência em Portugal”.

(...)

4. Página 123, segundo objectivo estratégico, onde se lê “Investir preferencialmente no capital humano e na qualidade dos indivíduos, particularmente os mais jovens, sem descurar as condições institucionais que lhe permitam a máxima rentabilidade do seu trabalho” deverá ler-se “cortar preferencialmente no capital humano e na qualidade dos indivíduos, particularmente os mais jovens, em linha com os ajustamentos noutros sectores da sociedade, de modo a que estes últimos não se sintam inferiorizados, rumo à equidade laboral”.

5. Página 123, quarto objectivo estratégico, onde se lê “Assegurar a permanência dos melhores investigadores actualmente em Portugal e atrair do estrangeiro os que queiram contribuir neste percurso de exigência qualitativa” deverá ler-se “Assegurar a saída da zona de conforto dos melhores investigadores actualmente em Portugal e atrair do estrangeiro os que queiram contribuir neste percurso de precariedade colectiva”.

(...)

(...)

8. Página 123, terceira medida, onde se lê “Abrir anualmente, em data regular, concursos para projectos de investigação em todas as áreas científicas, permitindo assim um adequado planeamento de actividades e financiamento estável aos mais competitivos” deverá ler-se “Evitar abrir anualmente, em data regular, concursos para projectos de investigação em todas as áreas científicas, impedindo assim um adequado planeamento de actividades e financiamento estável a todos”.

9. Página 124, última medida, onde se lê “Apoiar a formação pós-graduada de técnicos e investigadores” deverá ler-se “Recalibrar a formação pós-graduada de técnicos e investigadores, em linha com os ajustamentos de outros sectores da sociedade”.


Por vezes, basta deixar falar este Governo para perceber o que é este Governo. Aconselho a leitura integral de Proposta de errata ao programa de ciência do XIX Governo Constitucional.