15.11.12

a violência.


Acerca dos confrontos violentos entre manifestantes e polícias, ontem, em frente à Assembleia da República, quero deixar dois apontamentos.

Primeiro, sem dúvida que as agressões à polícia existiram, não tiveram nada a ver com o grosso da manifestação e, a meu ver, são um método de existência no espaço público que não contribui em nada para melhorar o país ou resolver os nossos problemas. Mesmo que haja infiltração policial nesses grupos, não acredito que essa infiltração seja o essencial do problema, nem a sua causa ou explicação. (Embora se deva fazer luz sobre o papel de eventuais infiltrados nestas situações, mesmo que essa luz não possa acontecer na praça pública e seja entregue ao controlo das pertinentes instituições.) Esta violência serve os que preferem a via da repressão e distrai as pessoas dos verdadeiros problemas.

Segundo, ontem houve muita gente pacífica, que estava a manifestar-se normalmente ou apenas a observar, ou simplesmente a passar por ali, e que apanhou cassetada valente nos costados. Basta ver as imagens da televisão para perceber que assim foi. Isso é inadmissível. A polícia diz que avisou antes de avançar, mas pelos relatos de cidadãos normalíssimos que por ali andavam, e por análise da situação, acredito que a polícia avisou - mas parece que não avisou de modo a que isso fosse entendido, sequer ouvido, pela generalidade das pessoas ali presentes. Umas palavras de megafone a partir da escada facilmente se perdem sem chegarem à generalidade das pessoas no meio da confusão da praça. As consequência estão à vista. Sem nenhuma retórica revolucionária, julgo que a polícia tem a obrigação profissional de fazer as coisas de modo a evitar o espancamento generalizado de pessoas que nada fizeram de mal. Não podem levar tudo à frente. Eu não estive lá, mas tinha o direito de ter estado sem correr o risco de ser corrido à bastonada. As imagens da TV mostram pessoas encostadas aos prédios, a observar, que se repente começam a ser violentamente molestadas pela polícia. Face a esta situação, o ministro das polícias devia usar menos de palavras grandiosas e levar mais a sério a necessidade de garantir que as forças de segurança não se tornem elas próprias factor de insegurança para o cidadão anónimo que quer manifestar-se sem correr estes riscos. Claro que os manifestantes violentos lhe deram o bom pretexto para aquela cena, mas a obrigação de um governante responsável não é abrir as asas e embarcar na onda; a sua obrigação é garantir que as forças do Estado façam tudo no estrito respeito pela integridade dos cidadãos.