5.9.12

um professor universitário a quem eu recomendaria uma escola profissional.


Carlos Fiolhais, em artigo hoje no Público, intitulado "Uma herança do PREC", vem fazer um confrangedor exercício de ignorância e de ideologia barata sobre "ensino profissional", talvez para relativizar os disparates que o ministro Crato tem dito sobre a matéria.
Sem me alongar, porque isso não aproveitaria muito a Fiolhais, que parece definitivamente ter-se desinteressado pela verdade ou inverdade das coisas que escreve, direi apenas duas ou três coisas.
Primeiro: comparar aquilo que muitos escrevinhadores chamam "a abolição do ensino técnico a seguir ao 25 de Abril" com o ensino profissional que actualmente existe em Portugal, ou é ignorância ou má-fé. Ou as duas coisas. O ensino profissional que hoje existe não é um beco destinado a encaixar as "classes baixas", é um ensino de qualidade, que dá acesso a profissões qualificadas e muitas vezes bem remuneradas, com uma formação de espectro largo que não separa os que podem e os que não podem ir para o ensino superior, que não fecha portas, antes as abre. Isso faz toda a diferença, tanto em termos de qualidade da democracia, como em termos de qualidade do ensino. Ignorar isso e misturar alhos com bugalhos, como faz Fiolhais logo desde o título do seu artigo, é estar enganado ou querer enganar-nos.
Segundo: escrever, como faz Fiolhais, que a oferta educativa existente em Portugal é "como as lojas de souvenirs na antiga União Soviética onde só havia bustos de Lenine", porque é completamente unificado até ao 9º ano "e com poucas escolhas depois dele", é estar num Portugal diferente daquele em que vivemos aqui a leste do cabo da Roca. Se Fiolhais não conhece a oferta de ensino profissional, informe-se em vez de dizer disparates. Vá, por exemplo, à procura da lista de Escolas Profissionais e dos cursos que elas oferecem por todo o país. Informe-se em lugar de se engasgar com ideias feitas. É o mínimo que deve aos leitores do jornal em que escreve, o qual pago para ler.
Terceiro: a "via única", "instituída em nome da igualdade", a que Fiolhais atribui a fonte do insucesso do sistema educativo, só existe na cabeça de ideólogos mal informados. Que Fiolhais deteste a igualdade, mormente a igualdade de oportunidades, não nos custa a crer; mas podemos pedir que confronte as suas preferências com a realidade, ou isso é demais para si, Carlos Fiolhais? É que já existem mais de 40% dos jovens no ensino profissional ao nível secundário - como pode, mesmo assim, falar de via única? Nem no papel, nem na realidade. Só na cabeça destes propagandistas. E a "nova meta" dos 50% dos jovens do nível secundário a frequentar o ensino profissional, propalada pelo ministro Crato, é uma "nova meta" desde os anos 90 do século passado.

Tanta ignorância será devida a más escolas frequentadas por tamanho professor doutor, à falta de tempo para preparar os seus escritos, ou simplesmente à deficiente formação cívica de quem não cura de falar verdade quando se mete a fazer propaganda? Estou certo que um curso de uma das muitas Escolas Profissionais deste país evitaria ao Professor Doutor Carlos Fiolhais estas falhas deontológicas, e mesmo de carácter, porque muitas Escolas Profissionais oferecem, além de excelente formação, um ambiente propiciador de uma relação saudável com a vida, assim fazendo também educação, além de ensino.